A Grécia da América
- Carolina Sant'Anna

- 26 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de ago. de 2019
Uma visita a Washington D.C. nos remete quase que instantaneamente ao Mediterrâneo, especialmente à Atenas e outras poleis gregas.
Isso se deve ao fato de sua arquitetura ser muito semelhante à da antiguidade. Mas por que essa semelhança?
Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA e arquiteto amador, difundiu o estilo neoclássico no país com vários projetos de sua autoria (incluindo sua própria residência). À época, não havia escolas de arquitetura e Jefferson aprendeu sozinho sobre o assunto estudando diversos projetos e livros, sendo muito influenciado pelas obras de Andrea Palladio, arquiteto renascentista italiano que se baseava nos valores da arquitetura greco-romana clássica.
As construções que seguiam esse estilo transmitem muita força, ideal para uma capital recém criada como Washington. Um exemplo dessa força é o Lincoln Memorial, dedicado ao 16º presidente americano e principal objeto do nosso texto de hoje.

Vista aérea do Memorial
Este memorial, cuja construção iniciou em 1914, é um dos mais de 380 parques no Sistema de Parques Nacionais, um serviço que cuida desses locais especiais na história americana para que todo o povo possa conhecer sua herança.
O edifício projetado pelo arquiteto novaiorquino Henry Bacon possui 36 colunas que representam os estados da União na época da morte de Lincoln, com seus nomes entalhados no friso. Nas paredes acima estão gravados os nomes dos 48 estados na União quando o memorial foi completado, em 1922.

Além da imponência do edifício em si, dentro do memorial encontramos a peça principal: o homenageado! Uma estátua de quase 6m de altura e 6m de largura de Abraham Lincoln sentado em um trono, esculpido a partir de 28 blocos de mármore.

Estátua de Abraham Lincoln dentro do memorial, com a inscrição "neste templo, como nos corações do povo para o qual ele salvou a União, a memória de Abraham Lincoln é eternamente consagrada" logo acima
Essa parte importantíssima do memorial lembra uma das maravilhas do mundo antigo: a Estátua de Zeus em Olímpia, uma das maiores conquistas esculturais da história antiga. Diz-se que esta media cerca de 13m de altura e foi criada para cultuar o deus grego.

Representação da Estátua de Zeus no Templo de Zeus em Olímpia, Grécia
Acredito que, de certa forma, há uma correlação entre os dois, Lincoln e Zeus, quase fazendo com que uma obra se inspirasse na outra.
A mitologia conta que Zeus lutou contra seu pai, o titã Cronos, para libertar seus irmãos e depois o depôs, se tornando assim o rei dos deuses.
Já a história nos mostra que Abraham Lincoln é um dos mais importantes presidentes americanos da história. O advogado era um abolicionista convicto e debatia constantemente contra a escravatura, o que o levou a concorrer à presidência, e assumi-la em 1861. Após sua eleição, alguns estados sulistas se separaram da União, levando o novo presidente a iniciar uma guerra para restaurar a unificação da nação. Foi assim que surgiu a Guerra de Secessão (ou Guerra Civil Americana), que teve fim somente em 1865. No meio do caminho (em 1863), Lincoln ainda decretou a emancipação dos escravos e pronunciou seu célebre discurso onde prometia que "nesta nação, sob a graça de Deus, terá um renascimento da liberdade; e o governo do povo, pelo povo e para o povo não perecerá sobre a Terra”, definindo o significado democrático do seu governo.

Inscrição em uma das paredes do memorial
Ambos lutaram contra forças muito maiores que eles próprios: Zeus contra Cronos, o rei dos titãs, que podia devorar a tudo; e Lincoln contra parte da população, que venceu seu exército em repetidas batalhas durante dois anos. Ambos foram homenageados de maneira similar e gloriosa por seu povo.
Infelizmente, o grande monumento a Zeus em Olímpia não existe mais, mas o enorme “templo" de Abraham Lincoln pode ser visitado por milhares de pessoas diariamente na capital dos EUA.
Lá é possível sentir o grande patriotismo desse país e se emocionar com o sentimento de liberdade que paira, tanto pelos trechos de falas de Lincoln entalhados na parede quanto pela memória do discurso proferido ali por Martin Luther King Jr. em 1963, cem anos após o decreto da emancipação dos escravos.

Marcha para os direitos civis com discurso de Martin Luther King Jr. nos degraus do Lincoln Memorial
Se você quer conhecer esse e outros marcos importantes da história americana, conte com a gente para fazer um roteiro por Washington e outras cidades ricas em histórias de liberdade e coragem!






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